Querid@s leitore@s,
Ainda há pessoas que não entendem. Outubro Rosa é uma festa, lacinhos rosa, sininhos tocando. Tudo bem. É válido. São feitos para mulheres vitoriosas e para a conscientização de outras tantas. Tive câncer de mama em abril de 1999, passei por muitas tristezas e alegrias assim como também presenciei cenas de muita felicidade e de grande sofrimento. Vi pessoas se curarem, outras falecerem e quando saí do câncer eu era um outro ser. Com a minha profissão de psicologia, naturalmente quis estudar essa doença, entender, trabalhar com grupos e pacientes com câncer e contribuir para minimizar a dor e até nos óbitos e ajudar no fortalecimento emocional dos doentes e familiares.
Descobri grupos de pessoas com câncer no Facebook e percebi que na maioria deles o tema é o sofrimento, a dor, as perdas, os efeitos colaterais dos tratamentos, a dúvida quanto à alimentação ideal, os medicamentos que dão certo ou não, a dificuldade em obtê-los, os preconceitos, as dificuldades encontradas, às vezes, dentro da própria família, a desesperança, mostrar ou não a careca, como resgatar a feminilidade, a sensualidade, o prazer no sexo. Fora a solidão, o medo da recidiva, a confusão emocional. Durante os 18 anos após o câncer que tive, aprendi muito pessoalmente e profissionalmente, inclusive com meus próprios pacientes. Então, pensei: Por que não levar essas informações à esses grupos tão carentes de dados comprovados cientificamente? Porque na minha época eu não tinha a internet para me informar, para me ajudar. Tive de aprender a duras penas e com muito trabalho. Não estou aqui para vender meu trabalho como psicóloga. Até porque psicólogos conquistam seus pacientes por indicação, pelo boca a boca, não por posts em internet. Estou aqui para compartilhar todo o meu aprendizado e para deixar claro que o câncer é cruel, ele devasta a vida de muitas mulheres e a saúde pública não está fazendo tudo o que deve não! E se a infeliz não for rica, ferrou de vez. Muitas vão à óbito, enquanto estão na fila do SUS, esperando chegar a vez de serem chamadas.
 Assim, faço o que posso para ajudar. Porque eu conheço na pele o que é ter um câncer e compartilho hoje o que não encontrei em 1999; informações esclarecedoras facilmente às mãos.
Sou sim uma ex-paciente de câncer de mama que superou a doença até agora e uma psicóloga que estuda a doença. E posso informar que as estatísticas não são nada animadoras. O câncer de mama é o que mais mata as mulheres, perdendo somente para o câncer de pele. Então, vamos comemorar o quê? O que está sendo feito pelas mulheres que ainda sofrem em leitos de hospitais, em filas de espera, em medicamentos que as machucam mais e na ausência adequada de uma orientação psicoeducacional adequada?

Regina de Oliveira Fernandes – contato: regina@refernandesebooks.com.br