Existem casos difíceis de medo e negação de ter um câncer, dificultando, inclusive, a possibilidade de cura. Algumas pessoas simplesmente nunca mais retornam ao médico após receber o diagnóstico. Dizem aos familiares que não têm nada sério ou preferem se refugiar em promessas milagrosas de cura, para não enfrentar suas angústias e limitações.

Encarar a possibilidade da morte pode nos colocar frente a um dos piores e mais terríveis medos. Mas esse pavor contém uma energia tão intensa que é capaz de transformar-se em fortalecimento para um reencontro com a saúde e a vida. Para que esse reencontro aconteça, precisamos olhar para nossos temores, acolhê-los, aceitá-los. Isto quer dizer, também, que é preciso entrar em contato com o fator que os gera, conhecê-lo, assim como suas mensagens e estratégias e, aí sim, transformar nossa existência. Dá medo, sim, pensar no que terá de se enfrentar. Melhor acreditar que seja só um pesadelo e que, ao acordar, tudo estará como antes. Só que não adianta fugir nem fingir, nem tentar se enganar. É preciso compreender bem o que está acontecendo para lidar, da melhor forma, com esse evento.

É importante não confundir a aceitação da doença com passividade, resignação. Passividade significa não agir nem reagir, ficar indiferente, inerte. Pressupõe ausência de ação em qualquer direção. Resignação reflete uma atitude de submissão paciente aos sofrimentos da vida.

A aceitação se revela em comportamentos que acolhem, de alguma forma, para considerar, compreender. Indica que há o reconhecimento de que aquilo existe. É somente por meio desta compreensão que a pessoa identifica as ações necessárias para lidar melhor com o câncer. Assim, sentir medo diante da notícia do câncer é perfeitamente normal. Paralisar-se por ele e não agir, negando-o, reduzem as chances de superá-lo. A postura do médico ao informar seu paciente sobre o diagnóstico de um câncer pode ajudá-lo a vivenciar o medo, sem a paralisia que inibe qualquer ação mais consciente por parte do doente.